domingo, 13 de dezembro de 2009

Natal e o mistério da Igreja


A Igreja está em foco … nos jornais, nas revistas, nas conversas informais… Muitos a admiram, apontando o seu esforço de atualização concretizado em medidas para transmitir hoje de maneira nova as eternas verdades do Evangelho… Outros, porém, a criticam, pois nela vêem abusos e deficiências da parte de ministros e de fiéis que mais deveriam primar pela fé e a dignidade. Em conseqüência da sua decepção, muitos fiéis católicos são propensos a abandonar a Igreja, professando um Cristianismo individual, descomprometido de qualquer institucionalização…

Compreendemos o drama íntimo daqueles que, amando o Cristo, sofrem por verificar que nem sempre os discípulos do Senhor Lhe dão lúcido testemunho. A tais fiéis católicos será oportuno lembrar algo que o tempo de Natal - mais uma vez recém-vivido por nós - incute fortemente, a saber: o mistério da Encarnação ou do Deus feito homem e desfigurado sob a fragilidade humana é o mistério central da fé cristã; com efeito, o cristão tem seu referencial em Cristo, que é Deus feito homem,… Deus que quer vir aos homens através do humano, ocultando a Eternidade sob a forma de realidades temporais, encobrindo a riqueza divina com os véus da fragilidade e da pobreza do homem. Ele podia não ter procedido assim: ter-se-ia então dado aos homens de maneira direta e fulgurante… Mas, se à Sabedoria Divina aprouve servir-se do que é pequeno e abjeto para transmitir o que é grande e divino (cf. 1Cor 1,27s), ao cristão toca aceitar este desígnio com todas as conseqüências que ele acarreta. Isto quer dizer que toda a história das comunicações de Deus aos homens será a continuação do mistério da Encarnação.

Certa vez, João Batista, tendo mandado perguntar a Jesus se Este era realmente o Messias aguardado, recebeu a seguinte resposta:

“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. E bem-aventurado aquele que não se escandalizar a meu respeito !” (Mt 11, 4-6).

Com estas palavras, Jesus aludia aos prodígios que Ele ia realizando em sinal da sua natureza divina; Ela renovava as criaturas, restaurava os elementos deteriorados pelo pecado … Mas predizia que Ele seria escandaloso… como ? - Sim; havia de ser pregado à cruz,… desafiado para que desta se desprendesse como havia salvo a tantos durante o seu ministério público (cf. Mt 27, 39-43). E, não obstante, Ele não se moveria, deixando-se morrer como que inepto e vencido sobre o patíbulo. A fraqueza de Cristo, imprevista e surpreendente, desconsertaria a muitos, provocando a fuga dos próprios discípulos, exceto João. Todavia o Senhor crucificado era o Rei da glória, voluntariamente desfigurado, mas portador da vida divina que ressuscitaria seu corpo três dias depois! Felizes, portanto, aqueles que não se escandalizassem a seu respeito!

Ora sorte semelhante toda à Igreja instituída pelo próprio Cristo para ser seu Corpo prolongado (cf. 1Cor 12). Ele a concebeu segundo o mistério ou a lei da Encarnação. Isto significa que Ele haveria de dar à sua Igreja o poder de fazer prodígios,… prodígios de renovação dos homens e da história… Sim; foi a Igreja, entregue a homens rudes, que enfrentou o pujante Império Romano, sofreu as perseguições deste, mas acabou por vencê-lo, como atestava o Imperador Juliano o Apóstata (361-363): “Venceste, Galileu!” Foi a Igreja que salvou das ruínas os tesouros da cultura greco-romana e os entregou aos povos bárbaros; foi a Igreja que, mediante o mundo ocidental ou, simplesmente, o mundo inteiro… A Igreja, mesmo nas fases de crise mais aguda, sempre encontrou em sua vitalidade própria o fermento para revigorar suas forças.

Todavia da Igreja também se pode e deve dizer aquilo que Cristo afirmou de Si: “Feliz aquele que não se escandalizar a seu respeito!” Recoberta pela fragilidade humana, a Igreja traz as marcas da deficiência dos seus filhos, ora mais, ora menos patentes. Todavia a Igreja continua contendo em si a força de Deus para a santificação dos homens (cf. 2Cor 12,10); a fragilidade dos filhos da Igreja é incapaz de esvaziar a riqueza dos meios de santificação que Cristo nela depositou e que, passando por mãos limpas ou sejas, são sempre entregues impolutos a quem os procura na fé.

Estas verdades são de importância fundamental para os fiéis que sofrem em seu íntimo as repercussões de episódios dolorosos… O Natal, recém-celebrado, veio avivar no povo de Deus a consciência do grande desígnio do Pai que se manifesta tanto no presépio de Belém como na história da Igreja. Possa esta consciência orientar os fiéis católicos durante todo o ano de 1978!

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

Nº 217, Ano 1978, Página 1.


Fonte: Blog do Professor Felipe Aquino

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